quinta-feira, 8 de março de 2012

Como se aprende a ser menina



Quantas vezes você já ouviu essas frases:menina, fecha as pernas!,menina tem que ser delicada, comportada,rosa é de menina, azul é de menino”, menina brinca de boneca, menino brinca de carrinho?



Com certeza para a maioria das meninas essas frases “soam” familiares, cheias de valores e papéis a serem transmitidos, incorporados e reproduzidos no comportamento feminino. Quando criança, as meninas ganham de presente bonecas, panelinhas e tudo que venha simbolizar as funções atribuídas à mulher (mãe, dona de casa). Aprendem a fechar as pernas, como se o ato de deixarem, supostamente, o sexo exposto fosse feio ou errado, ou melhor, não fosse “modos de menina”. A elas é permitido chorar, demonstrar fraquezas e sentimentos, porque pertencem ao “sexo frágil”.

NA ESCOLA não é diferente, muitas vezes as filas são organizadas conforme o gênero, “fila de menina” e “fila de menino”. Na educação física, as meninas e os meninos costumam fazer as atividades separadas e, de vez em quando, algum professor tem a “brilhante ideia” de promover competições entre el@s, como se o objetivo do desporto fosse apenas a habilidade e condicionamento físico, quando poderia trabalhar a eqüidade de gênero, a solidariedade e a cooperação. São educadas a serem sempre submissas e fracas, estando sempre sob a dominação do homem.
Assim, todos esses valores internalizados pelas meninas que promovem a discriminação de gênero, ou seja , que reforçam como preconceito as diferenças entre homens e mulheres é definido como machismo, que muitas vezes cresce com elas, e se torna “natural” em seu comportamento, na sua forma de se relacionar com os colegas, com a família, nos espaços de convivência e, principalmente, no seu modo de pensar e não é que a mulher seja machista.

NA ADOLESCÊNCIA não é diferente. As meninas quando entram nessa fase, passam pela puberdade, que é o período que ocorre mudanças em seu corpo, como crescimento dos pelos pubianos nos órgãos genitais, nas axilas, e a primeira menstruação. Mas como na infância aprenderam que é feio ou errado abrir as pernas, muitas meninas apresentam dificuldade de conhecerem e se apropriarem do seu próprio corpo. Demoram a saber por onde sai o xixi, por onde desce a menstruação ou sai o bebê no parto natural, e se o sexo anal engravida.
Nessa fase também aprendem que quando a MENINA fica com vários meninos é galinha, e que quando o MENINO fica com várias meninas, é garanhão. E pelo medo de ficarem “mal faladas” esperarão o menino tomar iniciativa, pois aprenderam que isso não são “modos de menina”.
Além disso, são usualmente criticadas pelas suas roupas curtas e decotadas, fazendo menção as mulheres “que vivem da noite” (como se isso fosse ofensivo) ou utilizando as vestimentas como justificativa de um possível abuso sexual ou estupro, como se a mulher se vestisse pensando nisso e não, e somente apenas, para agradar a si mesma. Assim, são ensinadas a temerem aos homens, ao invés de ensiná-los a respeitarem as mulheres.

MAS...onde há poder, há resistência! Desde os primórdios da humanidade, as mulheres resistem a todas as formas de opressão, mesmo tendo que pagar com suas próprias vidas, sendo executadas em praças públicas e queimadas vivas nas fogueiras da Santa Inquisição.
A história escrita e contada pelos oprimidos, explorados e povos que resistiram a todas as formas de dominação, nos mostra que em todos os momentos as mulheres estiveram presentes nas lutas, contra os colonizadores como as MULHERES INDÍGENAS, contra os senhores feudais como as MULHERES NEGRAS ESCRAVIZADAS, assim como todas as MULHERES BRANCAS, PARDAS, AMARELAS, MULATAS, ORIENTAIS, OCIDENTAIS, que sozinhas ou em grupos e movimentos sociais/populares lutam diariamente contra o machismo, o sexismo (forma de tratar a mulher como objeto), homofobia (preconceito aos homossexuais), ao estereótipos e padrões de beleza impostos pelas mídias e sociedade, entranhados em suas culturas, em seus costumes, em seus hábitos “naturalizados”.
Mulheres que lutam pelo direito à moradia, à terra para trabalhar, ao tratamento igualitário entre homens e mulheres, à receber o mesmo salário da mesma função exercida pelo homem e `a ocupar cargos e funções predominantemente masculinos, de enterrarem seus filhos e maridos vítimas da violência e da injustiça social. Mulheres que insistem em não deixar cair no esquecimento o desaparecimento dos seus filhos na ditadura. Mulheres, cansadas de serem vitimas de seus próprios maridos e se encorajam para denunciar todas as formas de violência sofridas (psicológica, doméstica, sexual).
MENINAS DA MOBILIZAÇÃO ESTUDANTIL
Contudo, por mais DIREITOS E ESPAÇOS CONQUISTADOS PELAS MULHERES ATRAVÉS DA LUTA E DA RESISTÊNCIA, ainda há muito por fazer. Se faz urgente ações e iniciativas que não somente garantam os direitos das mulheres, mas também a valorização da diversidade como um todo, pois é na diferença que somos únicos.
Temos direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza, temos direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. (Boaventura de Souza Santos)

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